Em artigo recente da Reuters, o jornalista Will Dunham relatou, sob o título “Cientistas chegam mais perto de confirmar existência da matéria escura”, as mais recentes tentativas da comunidade científica de encontrar evidências para um dos componentes mais enigmáticos do universo. O telescópio Fermi detectou emissões de raios gama próximo ao centro da Via Láctea, e, com isso, os pesquisadores afirmam estar mais próximos de confirmar a existência da matéria escura. Será?
Uma análise mais criteriosa desses achados revela limitações metodológicas significativas que colocam em questão não apenas os resultados, mas todo o paradigma cosmológico contemporâneo.
Na verdade, antes de mais nada, é preciso ter em mente que a matéria escura é uma hipótese ad hoc criada para resolver inconsistências matemáticas entre as observações astronômicas e as teorias gravitacionais atuais.
Quando Edwin Zwicky, em 1933, primeiro propôs a existência de “matéria perdida” para explicar as velocidades orbitais das galáxias, ele estava essencialmente admitindo que nossos modelos gravitacionais eram insuficientes para explicar as observações. Desde então, ao invés de questionar as teorias fundamentais, a comunidade científica tem preferido postular a existência de uma substância invisível, indetectável e que compõe, segundo eles, pelo menos, 27% de todo o universo.
Esta abordagem metodológica revela uma tendência preocupante na cosmologia moderna: a aceitação de explicações baseadas em entidades hipotéticas como equivalentes a explicações baseadas em fenômenos observáveis.
A matéria escura não é um caso isolado. O modelo cosmológico padrão depende de uma impressionante coleção de componentes não observados diretamente, tais como: Energia Escura, uma força repulsiva hipotética para explicar a aceleração da expansão universal, cuja natureza permanece completamente desconhecida. Inflação Cósmica, que consiste num período de expansão exponencial do universo primordial, necessário para resolver paradoxos do Big Bang, mas sem qualquer evidência. Monopolos Magnéticos, ou seja, partículas previstas, porém, jamais encontradas.
Isso significa que 95% do universo consiste em componentes que existem apenas nas equações dos cosmólogos. É notável que uma disciplina científica tenha se tornado tão dependente de entidades hipotéticas para sustentar suas teorias fundamentais.
O artigo em epígrafe menciona que “nenhum experimento ainda detectou partículas de matéria escura diretamente”. Esta afirmação, apresentada quase casualmente, representa uma das maiores falhas experimentais da física moderna. Experimentos como o Large Hadron Collider (LHC), o Xenon1T, o ADMX e dezenas de outros projetos multimilionários têm sistematicamente falhado em detectar qualquer evidência direta de matéria escura.
Quando o Telescópio Espacial Hubble e outros instrumentos avançados foram desenvolvidos, esperava-se que resolveriam o “problema da matéria perdida”. Em vez disso, as observações mais precisas apenas aprofundaram o mistério, forçando os cosmólogos a postular ainda mais matéria escura para manter a consistência de seus modelos.
O artigo menciona que o Cherenkov Telescope Array Observatory pode “fornecer uma resposta” diferenciando as duas hipóteses citadas no texto. A história da cosmologia moderna está repleta de previsões de que “o próximo instrumento” resolverá os mistérios fundamentais. No entanto, cada geração de telescópios mais potentes apenas revela novos problemas que requerem ajustes ad hoc aos modelos existentes.
Além disso, a busca por matéria escura apresenta um problema epistemológico fundamental: como confirmar a existência de algo definido precisamente por sua indetectabilidade? O artigo da Reuters ilustra este dilema ao mencionar que as emissões de raios gama “produziriam o mesmo sinal” esperado da matéria escura.
Esta abordagem cria um cenário onde qualquer observação astronômica não explicada pode ser atribuída à matéria escura, tornando a hipótese praticamente não falsificável – uma característica que Karl Popper identificou como incompatível com o método científico rigoroso.
As limitações reveladas na busca pela matéria escura apontam para um problema mais fundamental na cosmologia contemporânea: a preferência por complexidade teórica crescente em vez de questionar suposições fundamentais.
Quando 95% do universo deve ser composto por entidades hipotéticas para que nossos modelos funcionem, talvez seja hora de considerar que os modelos, e não o universo, precisam de revisão. A ciência avança não apenas pela acumulação de dados, mas pela disposição de questionar paradigmas estabelecidos quando as evidências se tornam problemáticas.
A verdadeira questão não é se encontraremos a matéria escura, mas se estamos fazendo as perguntas certas sobre a verdadeira origem e natureza do cosmos que habitamos.