Por que não Deus? Investigando as razões ocultas por trás da rejeição da Hipótese Deus pela academia – Parte 05

Pierre Bourdieu foi um sociólogo francês conhecido por suas pesquisas sobre educação, cultura e desigualdade social. Em sua extensa bibliografia desenvolveu diversos conceitos, quatro dos quais trataremos neste e no próximo artigo. Abaixo abordaremos os conceitos de “campo social”, enquanto no próximo discutiremos “capital”, “habitus” e “illusio”.

Pierre Bourdieu desenvolveu o conceito de “campo” como sendo o espaço social onde diferentes agentes competem e cooperam em busca de aceitação, capital e poder.

Cada campo é necessariamente um espaço de posições ocupadas por agentes que se relacionam conforme circunscritos por lugares que lhes condicionam o comportamento. Nesse sentido, o campo não apenas é estruturado por seus agentes, mas também os estrutura. Não se trata, obviamente, de um espaço físico. O espaço social é uma abstração que define proximidades e distâncias.

De acordo com o sociólogo, campo é uma arena de lutas simbólicas, onde indivíduos e instituições interagem e se posicionam em relação uns aos outros e aos recursos disponíveis.

O campo é organizado a partir de eixos estruturantes em torno dos quais as posições ganham os seus contornos. A alocação dos agentes depende de tais eixos. Por exemplo, eixos que definem o campo político são os espectros esquerda verusdireita ou progressista versus conservador.

Todo campo possui regras que podem ser jurídicas ou resultantes de aceitação tácita, não redigidas mas respeitadas pelos participantes do mesmo. Ao mesmo tempo em que é um espaço de identidade, também é uma arena de luta. Conflito e proximidade, confronto e cumplicidade. Há enfrentamentos que ocorrem ao mesmo tempo em que todos de uma maneira ou de outra defendem e conservam as regras do jogo. Retomando a exemplificação política: deputados são políticos, mas existem políticos de esquerda que se opõem aos de direita.

O tema que estamos desenvolvendo diz respeito a um campo específico, o acadêmico. É nele que se processa a construção do conhecimento considerado legítimo, sendo composto por agentes  chamados de acadêmicos (cientistas, pesquisadores, universitários,…) que ao mesmo tempo em que cooperam para conservar as regras do campo, disputam encarniçadamente para ocupar posições destacadas e se apropriar de capitais e troféus próprios dessa arena de socialização e luta.

Existe uma trajetória de participação no campo que começa com a intenção de penetrá-lo passa pelo ingresso e se conclui pelo alcance de algum espaço em seu interior. O pretendente é aquele que deseja participar do campo. Este é o graduando, mestrando, doutorando que deseja ser professor universitário. Para se tornar um contendor, precisa passar por alguma porta. Por exemplo, no campo jurídico, a porta é estabelecida pelo exame da OAB, já no campo acadêmico é a obtenção do título de doutor.

Para que o pretendente se torne parte do campo não basta ocupar uma cadeira de professor universitário ou ser integrado a um laboratório de pesquisa, antes ele precisa internalizar as regras do campo, ou seja, ele precisa pensar de acordo com seus pretensos pares de campo. E isso acontece paulatinamente no processo de formação acadêmica. Quando o seu jeito obtém o doutoramento, precisa ter incorporado as regras do jogo para então, começar a jogá-lo.

Campo é um dos conceitos centrais no pensamento de Bourdieu. Ele oferece uma explicação genérica no livro “Questões de Sociologia” e específico no “Usos Sociais do Campo Científico”  na qual uma das conferências dedica explicação.

Ao lado do conceito de campo, outros três são de suma importância: capital, habitus e illusio. Trataremos desses nos próximos artigos.

 

 




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