Sobre o problema do mal a partir de Plotino, Agostinho e Aquino

O que é o mal?

Aprendemos com o filósofo neoplatônico Plotino que o mal não é algo em si, mas a falta de outra coisa.

O mal “é”?  Não, ao contrário: o mal é o “não é”. Ausência, não presença, falta, não comparência; tal como escuridão não é um algo em si, mas a ausência de outro algo, no caso, da luz. Plotino acredita que o mal pode ser definido, portanto, como a ausência de bem.

Deus criou tudo, inclusive o mal?

Não, Deus não criou o mal, o mal é justamente a ausência de Deus. É o conjunto de lacunas, são os espaços de “vazio de Deus”.

Deus concentra a essência de tudo em si, porque apenas ele é ser:

“Disse Deus a Moisés: ‘Eu Sou o que Sou. É isto que você dirá aos israelitas: Eu Sou me enviou a vocês’”(Êxodo 3: 14).

“Respondeu Jesus: ‘Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!’” (João 8: 58).

O filósofo São Tomás de Aquino nos ensina que todas as coisas criadas não são seres em si, mas seres por participação. Ou seja, são seres tão somente porque Deus, que concentra a essência de tudo em si, emprestou partes de seu “eu” para cada coisa que existe.

Então como se pode admitir a ausência de Deus?

Plotino realça que o gerado é inferior ao gerador, porque o primeiro é a cópia imperfeita do segundo. Quanto mais distante da fonte geradora, menor a identidade. Para exemplificar: já percebeu como o xerox de textos já xerocados vão perdendo a qualidade? A cada nova fotocópia, menos nítida é a imagem. Assim ocorre com a obra do Altíssimo: aquilo que está distante de Deus está impregnado pela ausência de Deus e é ali, nessa ausência, que reside o mal.

Como Deus é o criador e o perfeito bem, quanto mais distante dele, menos fiel é a cópia, maior é a quantidade de lacunas. Lacunas, no caso, são espaços vazios, ausências da imagem daquilo que se copia, em outras palavras: ausências do bem que se concentra em Deus.

Em suma: sendo Deus o bem, tais ausências representam a ausência do bem, ou seja, o mal. Quanto mais distante de Deus, menos bem encontra-se, maior é a ausência de bem que se percebe, sem o bem, tem-se o mal.

Logo, o mal é a ausência de Deus!

Então, por desvelamento imediato, nos deparamos com uma das indagações mais inquietantes da humanidade: por que Deus permite o mal?

Como vimos, São Tomás de Aquino nos ensina que Deus é Ser e que todas as criaturas são seres por participação. Deus deu partes de seu Ser para cada coisa criada, inclusive para nós, seres humanos.

A humanidade é a parte de Deus reservada para nossa espécie. Olhando para o cosmos percebemos sem muita dificuldade que o Eterno nos presenteou com o melhor de si, pois apenas nós pensamos, somente nós sabemos que pensamos e isso nos faz muito especiais.

O saber traz consigo liberdade, já nos ensinou Agostinho: é porque pensamos que somente nós humanos somos livres.

Mas para que a liberdade seja verdadeira, precisamos deter o autêntico direito de escolher. Concorda? Se Deus não nos der opções, não somos livres.

Para que a obra fosse completa, Deus nos deu plena liberdade moral. O Criador foi tão fiel ao seu propósito que permitiu que escolhêssemos até acerca dele próprio. É vontade de Deus que sejamos dele, mas o Pai nos dá a liberdade para escolher não realizar o seu santo desígnio.

Se decidimos livremente, podemos determinar nosso destino: se queremos pertencer a Deus ou não, o que significa rigorosamente indagar se queremos o bem ou o mal.

Ao escolher afastar-se do Pai, nos afastamos da essência do Pai que é o bem supremo. Ao nos distanciarmos do bem, caminhamos para as trevas da ausência, para aquela escuridão de vazio que costumamos chamar de mal.

Deus permite o mal, porque nos ama tanto que nos concede plena liberdade, inclusive para viver na abstenção de bem, na perturbadora ausência da presença de Deus.




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