Ente é tudo aquilo que existe; essência constitui o aspecto fulcral que singulariza algo em relação a todos os entes dispostos na realidade.
Os entes são distinguidos em dois grupos, os que existem apenas na mente e os que possuem existência extramental. Ambos são predicáveis, mas apenas os extramentais substanciam-se na realidade.
Segundo Aristóteles, os entes que existem fora da mente, dispostos na realidade, são sínolos compostos de matéria e forma. A matéria é a constituição física, enquanto a forma confere o significado singular, distintivo e único, portanto, constitui sua essência enquanto ser.
Mas como podemos conceber algum ser, se no mundo tudo muda. Ora, aquilo que muda, não é. Como explicar que algo seja se esse algo deixa de ser? O que muda não pode “ser”, tão somente “está”. Eu sou adulto? Não! Pois ontem eu fui criança e no futuro serei idoso. Portanto, eu não “sou”, eu sempre “estou”, na passagem ininterrupta da mudança que jamais se estabiliza.
Aristóteles responde à inquietante indagação sobre a mudança dos seres introduzindo os conceitos de potência e ato. Na verdade, cada substância comporta em sua essência uma trajetória. O presente traz em si simultaneamente o “agora” como “ato” e o “depois” como “potência”. Exemplificando novamente comigo: eu sou adulto e idoso ao mesmo tempo, adulto como ato e idoso como potência.
Mas ainda fica a dúvida: como a substância vem à existência? O que leva a matéria encontrar sua forma para dar vida a um algo concreto distinto de todos os outros algos existentes no cosmos?
Aristóteles deixou o enigma para ser decifrado por Tomás de Aquino. O filósofo considerado santo nos ensina que entre a matéria e a forma existe um terceiro componente: o ato de ser.
O ato de ser consiste na ação intencional de uma força que atua dando forma à matéria num processo criativo sobrenatural.
Portanto, tudo o que há só veio à existência porque alguém emprestou uma parte de seu ser a cada criatura. Que força é essa? Quem é esse alguém? Não resta a menor dúvida: trata-se de Deus!
Deus é o único ser de verdade, porque apenas ele não admite mudança. Deus é eterno e infinito, não tem começo e não possui limite, ele tão somente é. Por sua livre vontade, resolveu emprestar algo de si mesmo para cada criatura. E o fez através de seu gentil e amoroso ato de ser, distribuindo por meio de incontáveis criaturas partes que eram tão somente suas.
Evidência de que essa “teoria” é crível? Tomás de Aquino demonstra: absolutamente tudo no cosmos encontra-se em harmonia, revelando que cada substância compartilha de algo que produz os infinitos “encaixes” harmônicos. Ao mesmo tempo, nenhuma dessas substâncias é determinante para a existência das demais, ou seja, se algo deixa de existir isso não implica na inviabilização de toda a existência.
O que esse fato revela? Que nada do que vemos no universo é necessário por si mesmo, ao contrário, tudo é contingente, ou seja, poderia existir ou não.
Ora, tudo o que é contingente precisa de algo anterior que seja necessário, da mesma maneira que o predicado da frase requer um sujeito. Logo, se tudo o que vemos é contingente, é necessário que exista “o” ser necessário. E quem é tal ser necessário? Deus!