Henrique Morelenbaum, que acaba de falecer no Rio de Janeiro, com 90 anos, foi uma figura marcante, como maestro, do setor musical da nossa cultura. Quando o então governador Chagas Freitas me entregou em 1980 a presidência da Fundação das Artes do Rio de Janeiro, que englobava o Teatro Municipal e a Sala Cecília Meireles, não tive dúvida de nomear o meu amigo Henrique para dirigir, em tempos alternados, aquelas duas importantes casas de música. Já o conhecia pelo belíssimo trabalho na direção do coro do Instituto Eliezer Steinberg, onde cantavam diversos parentes (tia, prima, dois irmãos etc). Eram todos encantados pela delicadeza e bom-gosto do seu jeito e do seu repertório selecionadíssimo.
Quando quis prestigiar o ballet e o coro do Teatro Municipal, este considerado o terceiro do mundo, ocorreu-me uma providência essencial: acabei com as apresentações com fitas e exigi que as orquestras se apresentassem ao vivo. Foi uma extraordinária guinada e os nossos espetáculos ganharam mais consistência, atraindo mais público. Foi um ganho extraordinário, que pudemos dividir com o Maestro Morelenbaum. O Municipal alcançou incrível projeção.
Henrique foi também o orientador do coro do Teatro Municipal, com primorosas anotações. Tinha um prazer especialíssimo em trabalhar nessa área, acompanhado de uma família igualmente vocacionada (a mulher Sarah e os filhos Jaques, Eduardo e Lúcia, todos músicos). Pode-se estimar que os seus seis netos e dois bisnetos inexoravelmente acabarão adotando a mesma profissão.
O prestígio de Morelenbaum não se restringiu ao Rio de Janeiro, pois se apresentou em diversos países estrangeiros (Hungria, Polônia e Chile). Vale referir que se emocionou muito quando se apresentou na Polônia, pois foi o país onde nasceu. Saiu aos 3 anos de idade, com seus pais para viver no Brasil que ele amava.
Dirigiu obras de José Maurício, Castro Lobo, Villa-lobos, Francisco Braga, Leopoldo Miguez e Radamés Gnattali. Foi profissional completo e querido da música. Fará muita falta.