“O crime é onde sempre tem vaga de trabalho, a sociedade não quer nos empregar e ajudar. Mas nós vamos mostrar para eles que podemos fazer diferente”. Essas são partes das falas dos 20 egressos que começaram, nesta segunda-feira (10/1), as aulas do curso de Manutenção e Instalação de Computadores, oferecido pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG).
Todos os participantes são atendidos pelo Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional (PrEsp), executado pela Subsecretaria de Prevenção à Criminalidade, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), em Belo Horizonte. A capacitação faz parte do Projeto Alvorada, criado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) em parceria com os institutos federais de educação.
A iniciativa busca proporcionar às pessoas que acabaram de deixar o sistema prisional novas possibilidades no universo da educação e no mundo do trabalho, mudando assim suas trajetórias de vida e evitando que voltem a cometer crimes. A coordenadora de Políticas Penais de Prevenção à Criminalidade, Fabiana Dias dos Santos, esteve na aula inaugural, realizada nesta segunda-feira (10/1), no auditório principal do Cefet MG, e destacou a importância da atuação no PrEsp nesta retomada da liberdade após experiência prisional.
“Algumas das principais demandas que chegam para o programa estão relacionadas ao trabalho. E entendemos que a vaga de emprego é relevante, mas qualificá-lo, prepará-lo para se inserir no mundo do trabalho, também é extremamente importante. Os cursos de qualificação profissional oferecidos pelo programa, em parceria com outras instituições, é uma oportunidade para que eles consigam se inserir no mercado de trabalho a partir de uma preparação teórica e prática, favorecendo assim o exercício da cidadania. Essa é uma das frentes de trabalho prioritária do programa”, afirma Fabiana.
Curso
O curso será totalmente presencial e terá duração de nove meses. O programa é dividido em duas partes, sendo quatro meses de aulas teóricas e dois de aulas práticas. Toda a formação prática, que contará como um estágio, será feita nos laboratórios equipados do Cefet MG. As aulas são ministradas na parte da manhã, entre 7h30 e 12h50.
Os participantes receberam neste primeiro dia de aula um kit com material didático como apostilas de português e matemática, caderno de dez matérias, estojo com canetas e lápis e uma máscara de proteção contra covid-19. Os egressos também receberão uma bolsa no valor de R$ 878 como forma de incentivo e permanência na capacitação.
Para a professora e coordenadora pedagógica do Projeto Alvorada no Cefet MG, Roseane de Aguiar Lisboa Narciso, é uma realização muito grande abrir as portas da instituição para pessoas que passam por tantos preconceitos e por vários tipos de entraves sociais e econômicos. “E também é um desafio muito grande porque estamos abrindo a porta da comunidade acadêmica, aqui eles serão alunos do Cefet MG e irão interagir com os nossos estudantes. O Projeto Alvorada nasce como uma grande possibilidade de abertura dessas pessoas para o novo universo do mundo do trabalho, de inclusão social”.
Igor Soares dos Santos, de 39 anos, é um dos alunos. Há dois anos deixou a prisão, onde passou 18 anos da sua vida. A gratidão é a palavra dele para essa oportunidade. “Eu procurei o PrEsp porque sabia que a minha saída estava lá; as pessoas têm muito preconceito com quem deixa a prisão, eu sabia que a sociedade não ia me acolher, e o crime iria me abraçar. As oportunidades para nós são muito poucas. E o PrEsp me acolheu para um recomeço totalmente diferente. Eu vou agarrar essa grande oportunidade de poder estudar numa instituição federal como o Cefet”.
Fonte: Agência Minas