Projeto “A peça da semana” apresenta uma das obras literárias de Belmiro Braga

Seguindo a programação de conteúdos em celebração aos dias “Internacional” e “Nacional do Poeta”, o projeto “A Peça da Semana” apresenta um dos livros do escritor juiz-forano Belmiro Braga (1870-1937). Intitulada “Montezinas”, a obra foi editada pelo “Jornal do Commercio” de Juiz de Fora e impressa pela Tipografia Universal do Porto, em Portugal, em 1902. Embora sua produção literária já tivesse começado na imprensa local alguns anos antes, esta foi a primeira obra publicada por ele. Acompanhando as informações e imagens, nesta edição da “Peça”, além das fotos, serão divulgados nas redes sociais do Museu (facebook.com/museu.marianoprocopio e instagram, @museumarianoprocopio), vídeo complementar, com o conteúdo de pesquisa do historiador Sérgio Augusto Vicente, e texto com demais referências de estudo sobre o tema.

O “Trovador de Vargem Grande”, como ficou conhecido nas terras onde passou parte da infância e adolescência, ajudando o pai no balcão de venda de roça, na beira da estrada, destacou-se com seus versos líricos e satíricos, afeitos à abordagem espontânea da natureza, das memórias e situações prosaicas do cotidiano. Belmiro também deixa entrever em seus versos a inserção do Brasil na modernidade, a transição do rural para o urbano e as mudanças que esse período, conhecido como “belle époque” nos trópicos, trouxe para os costumes sociais.

“Montezinas” foi publicada poucos anos após Belmiro conhecer o poeta cearense Antônio Salles, frequentador do circuito literário carioca e grupo da Livraria Garnier, no Rio de Janeiro, composto por escritores colaboradores da “Revista Brasileira”, responsável por impulsionar, em 1897, a inauguração da Academia Brasileira de Letras. Salles era casado com Alice, tia do futuro memorialista juiz-forano Pedro Nava. Foi em uma venda situada na estação ferroviária de Cotegipe, outro distrito de Juiz de Fora, que ambos se conheceram em 1900. A partir daí, deu-se início longeva amizade entre ambos.

Construindo densa rede de sociabilidade dentro e fora do campo literário, Belmiro se tornou escritor com significativa inserção nos periódicos daquele tempo. Tal inserção extrapolou em muito o âmbito regional, onde colaborou com os jornais “O Pharol” e “do Commercio”, dentre outros, e participou da fundação da revista “Marilia”. O escritor também se tornou bastante conhecido nas revistas humorísticas ilustradas de circulação nacional, como “Fon-Fon”, “da Semana”, “O Malho” e “A Cigarra”, assim como outros jornais famosos, a exemplo da “Gazeta de Notícias” e “A Noite”, e outros.

Em 1910, Belmiro estreou sua produção no teatro, especificamente no “gênero ligeiro”, com peças curtas, de cunho satírico, dotadas de viés comercial e mobilizadoras de público amplo e heterogêneo. Segundo o historiador Elias Thomé Saliba, muitas dessas peças eram apresentadas antes das exibições cinematográficas, prestando-se ao importante papel de aproximação do público em relação ao cinema. Nesse sentido, pode-se falar que suas burletas constituíam uma espécie de “agente rotinizador” desse novo produto cultural, que ganhava espaço no incipiente mercado cultural brasileiro.

Logicamente, como muitos de seu tempo, Belmiro não sobrevivia exclusivamente através das várias colaborações prestadas aos periódicos. Por conta disso, equilibrou sua vida entre as letras e os múltiplos ofícios que exerceu, como comerciante, tabelião, inspetor escolar, fiscal de jogos, vendedor de seguros, etc. Em 1915 chegou, inclusive, a candidatar-se a deputado. Mesmo vivendo as instabilidades impostas pelo precário mercado de bens culturais da Primeira República, Belmiro Braga conseguiu se tornar escritor bastante popular e homenageado por seus contemporâneos, levando sua mensagem não apenas às elites, mas também aos menos afeitos ao mundo letrado. Devido a uma escrita simples, direta e espontânea, que dialogava com a oralidade e oscilava entre humor e lirismo, o poeta cativou público bastante amplo e heterogêneo. Tais habilidades despertavam o interesse daqueles editores que investiam na expansão do mercado consumidor de arte e cultura num país ainda marcado por grande número de analfabetos. Além das conferências que realizava nas mais diversas cidades brasileiras, Belmiro se dedicou à institucionalização das letras em sua cidade, esforço que, juntamente com outros parceiros escritores, resultou na fundação da Academia Mineira de Letras, em 1909.

Após sua morte, foram empreendidos esforços de perpetuação de sua memória em Juiz de Fora, tendo sido erigido busto em sua homenagem no Parque Halfeld, em 1939. No Museu “Mariano Procópio” estão alguns livros por ele publicados, além do cartaz da exposição celebrativa do centenário de seu nascimento, realizada na própria instituição, em 1972, pela então diretora, Geralda Armond (1913-1980), que também era poetisa e colaboradora de diversos periódicos e agremiações literárias no século 20. Geralda ficou conhecida em sua gestão por estimular a divulgação da produção de vários outros escritores do Município, através da criação da “Sala Juiz de Fora”.

No final da década de 1970, Belmiro Braga foi objeto de pesquisa de mestrado em teoria literária, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pela então professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Leila Barbosa Amaral. Em 2008, a professora de Língua Portuguesa, Rita de Cássia Leite, também defendeu dissertação de mestrado sobre o poeta, no Programa de Pós-Graduação em Letras do Centro de Ensino Superior (CES/JF). E, a partir de 2019, tornou-se objeto de estudo de doutorado, pelo historiador Sérgio Augusto Vicente, no Programa de Pós-Graduação em História da UFJF. Esta pesquisa, ainda em fase de realização, tem como orientadora a professora e doutora, Cláudia Maria Ribeiro Viscardi, inserindo-se no campo da história social da literatura. Nela, Sérgio analisa a trajetória literária do poeta e suas redes de sociabilidade nos circuitos Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, debruçando-se sobre suas produções literárias na imprensa e no teatro, consideradas profícuas fontes investigativas acerca da cultura e da sociedade brasileiras no contexto da Primeira República (1889-1930) e nos primeiros anos do Governo Vargas (1930-1937).

Segundo reportagens veiculadas pelo jornal “Tribuna de Minas”, vem-se tentando, há alguns anos, recursos para a produção de filme alusivo a parte curiosa da vida de Belmiro Braga. O tema diz respeito à relação de carinho e afeto do “trovador de Vargem Grande” com Machado de Assis (1839-1908), com quem trocou cartas ao longo de anos. A exemplo do que ocorria com muitos que lhe eram contemporâneos, Machado era “símbolo” de grande veneração e admiração de novos escritores, que sonhavam com a inserção e o tão almejado reconhecimento no campo das letras. Em suas memórias autobiográficas, Belmiro fez questão de enfatizar que o “Bruxo do Cosme Velho” teria sido o primeiro escritor famoso a lhe chamar de poeta.

Fonte: Assessoria




    Receba nossa Newsletter gratuitamente


    Digite a palavra e tecle Enter.