Dentre as coleções de Alfredo Ferreira Lage, fundador do Museu “Mariano Procópio”, destaca-se a de autógrafos, que deu origem ao Arquivo Histórico da instituição, criado em 1939, sob a denominação “Biblioteca-Arquivos”. Através de compras em leilões e recebimentos de doações, ele reuniu documentos aos quais poucos teriam acesso no Brasil. O item em destaque faz parte da coleção de autógrafos, formada e legada por Alfredo. Trata-se de correspondência assinada por Napoleão Bonaparte, imperador francês (1769-1821), dirigida ao marechal Louis-Alexandre Berthier (1753-1815). Algumas imagens do documento estarão disponíveis nas redes sociais do Museu.
Para a maioria das pessoas, a palavra “autógrafo” é associada à assinatura de uma personalidade. Entretanto, a definição do termo vai além, já que qualquer item escrito por alguém é autógrafo – que pode ou não ser assinado. Cartas, documentos, dedicatórias, desenhos, mapas, pensamentos, frases literárias ou musicais, manuscritas, compõem o universo dos autógrafos, assim como os itens que carregam apenas a assinatura da pessoa.
Durante o século 19, a moda de colecionar autógrafos se disseminou nos países da Europa e nos Estados Unidos, e a partir do início do século 20 o comércio desses itens se consolidou. Para adquirir uma peça, os colecionadores avaliavam fatores como: autor, conteúdo, temática, raridade, procedência e estado de conservação do documento. De modo geral, eram atraídos pela ideia de que a posse de um “vestígio do passado” os aproximava de eventos e personagens históricos.
Napoleão Bonaparte destacou-se durante a Revolução Francesa (1789-1799), movimento que modificou não somente a história da França, mas do mundo ocidental. Teve papel fundamental no chamado “Golpe do 18 de Brumário”, ocorrido em novembro de 1799, caracterizado pela dissolução do Diretório e pela instituição do Consulado, forma de Governo com poder centralizado nos militares e composta por três representantes – sendo Napoleão um deles. Em 1801 se tornou primeiro-cônsul, e três anos depois, imperador da França, recebendo o título de Napoleão I. Berthier, nomeado marechal por Napoleão, foi figura importante no império e nas “guerras napoleônicas” (relacionadas também à transferência da família real portuguesa para o Brasil).
Assim, tanto o remetente quanto o destinatário da correspondência foram figuras notáveis, o que torna o autógrafo mais interessante. Além disso, o local e a data de produção do documento, que contém instrução de ordem a ser dada ao general da divisão, têm relevância: em julho de 1809, Napoleão derrotou o exército austríaco, na batalha de Wagran. A vitória da França representava o avanço do império e seus ideais pela Europa.
No documento, a caligrafia não é a mesma da assinatura, o que indica que a correspondência foi manuscrita por auxiliar e assinada por Napoleão. Outro ponto merece destaque: a etiqueta localizada na parte inferior do papel sugere que o item foi adquirido em leilão. Na década de 1930, documentos de Napoleão Bonaparte podiam ser vendidos até por preços superiores a quadros de grandes artistas.
A observação do autógrafo de Napoleão I ratifica o perfil de Alfredo Ferreira Lage como colecionador atento, que reunia objetos e documentos a partir de critérios seletivos, com intenção de constituir conjunto coerente e significativo.
Fonte: Assessoria