Como deve ser a religião
No idioma japonês, a verdade central da religião é expressa com a palavra mushin (mu = sem; shin = mente). Mushin não significa ausência da mente, mas sim “mente despojada”, desapegada do ego; significa ausência do ego. Quando o ego se ausenta, desaparece a mente apegada ao ego e surge a mente verdadeira.
O monge Dõgen, lendo nas escrituras budistas a afirmação “Originalmente, o homem é um ser búdico, e a sua mente é espontânea e natural”, passou a remoer a seguinte dúvida: “Por que o homem, sendo originalmente um ser búdico, de natureza pura, cai em ilusão?”. Para esclarecer esta dúvida, ele foi à China, e encontrou a solução graças à prática budista de “Assentar-se apenas, simples e naturalmente”. Estando simplesmente sentado, o homem já é um ser búdico. Não é por meio da prática formal do zazen (postura budista de assentar-se) que se torna um ser búdico; já o é desde o princípio. O monge Dõgen compreendeu o seguinte: O homem, de natureza búdica, cai em ilusão não pela ação de elementos exteriores, mas porque se esqueceu de “assentar-se apenas”. Basta “assentar-se apenas simples e naturalmente”, para o homem revelar a sua natureza búdica originaI. Porém, quando a pessoa se apega ao “assentar-se”, ela se esquece do “apenas”, do “simples e naturalmente”, e tem a ideia errônea de que é preciso praticar o zazen para se tornar um ser búdico, ou que só adquire a natureza búdica quando está assentada. “Assentar” significa colocar as coisas no seu devido lugar. Portanto, o verdadeiro zazen não é mera forma. O vestir-se, o tomar refeições, o lavar-se, tudo é zazen, é manifestação do ser búdico. Quando o verdadeiro zazen se concretizar no cotidiano, haverá paz no mundo. É errôneo considerar o zazen mera ascese para autoaprimoramento, que se pratica refugiando-se nas montanhas ou enclausurando-se num templo.
Pelo fato de algumas religiões pregarem a salvação individual após a morte, os materialistas criticam a religião, e chegam a tachá-Ia de “ópio do povo”, argumentando que a religião, ao enfocar a vida pós-morte, desvia a atenção popular dos problemas sociais da atualidade e mantém as pessoas alheadas ao esforço de libertar a classe operária sofrida, fazendo os trabalhadores oprimidos acreditarem que seus sofrimentos serão compensados após a morte, quando irão para o Céu.
Cabe à religião tratar da Vida. Portanto, ela deve propiciar a salvação imediata, no tempo presente; deve proporcionar autonomia ao indivíduo, fazendo-o conscientizar-se de que é “dono de si mesmo”. É sua função dar apoio às classes oprimidas.
Abandone os pensamentos sombrios
De acordo com a lei da mente, os semelhantes se atraem; o pensamento sombrio atrai pensamentos semelhantes, das crenças universais, “materializando-os” na forma de infelicidade, desgraça ou doença. Nossa mente assemelha-se a um aparelho de rádio ou televisão, que capta o programa que foi sintonizado pelo seletor, fazendo-o surgir na forma de voz ou de voz e imagem, respectivamente, conforme o caso. Mesmo que tenha acontecido algo desagradável, esse fato já pertence ao passado; por isso não devemos ficar prendendo tal acontecimento na mente do agora. Se segurarmos na mente do agora acontecimentos negativos passados, estes continuarão a nos fazer sofrer como se ainda existissem. Expulsando da nossa mente as infelicidades ou experiências ruins do passado, elas não poderão mais nos causar sofrimentos.
Esqueça o passado desagradável
00“Esquecer as coisas com facilidade”, às vezes, é mais vantajoso para nossa felicidade do que ter “memória privilegiada”. Se em vez de os soltarmos da mente, nos apegarmos aos mil e um problemas da vida, estes transfornar-se-ão em sofrimentos, sendo a causa de doenças, de atritos entre as pessoas, podendo provocar desgraças irremediáveis. Para que possamos viver o agora, sentindo a beleza do reino de Deus neste mundo, é preciso que expulsemos de nossa mente tudo que for indigno. Em lugar de ficarmos mergulhados nos acontecimentos desagradáveis do passado, vivamos apenas a felicidade do dia de hoje. Evitemos ficar remoendo mentalmente fatos negativos já passados e cultivando sentimentos impuros, como revolta ou ódio. Se ficarmos acumulando tais impurezas em nossa mente, não conseguiremos sintonizá-la com a Mente de Deus e, por conseguinte, a felicidade que nos foi dada não se concretizará.