Verônica Hipólito se prepara para disputar os Jogos Parapan-Americanos pela segunda vez na vida. Estar em Lima já é uma grande vitória para a atleta, que passou por um dos momentos mais difíceis da carreira depois da Paralimpíada do Rio de Janeiro. Foram duascirurgias na cabeça por conta de tumores, seguidas de uma grave pneumonia. Para piorar, ela ganhou muito peso por causa da medicação que tomou e teve que se dedicar demais para conseguir recuperar a forma e conseguir a classificação para o Parapan. Mas, por mais dificuldades que ela tenha encontrado na trajetória, não é por essas coisas que ela quer ser lembrada.
“Talvez eu não apareça nos livros de história, mas eu sei que a minha parte eu estou fazendo. Eu nunca me vitimizei, eu não quero que me vitimizem. Eu sou o que eu sou. Tenho dores, tenho problemas, tive que fazer cirurgias, mas já passou. Ninguém conhece Simone Biles, Diego Hypólito, Michael Phelps, Usain Bolt, vários jogadores e jogadoras de futebol pelas cirurgias que eles fizeram. Todo mundo conhece eles pelos gols, pelas notas, pelas medalhas que ganharam. Então, espero que futuramente eu seja conhecida como a gigante das medalhas, aquela que ganha tudo e não como a menina que teve 200 tumores, saiba como ela ganhou tantas medalhas”, afirma categoricamente.
E não faltam vitórias para justificar o apelido de gigante das medalhas que ela mesmo se coloca. Ela já tem duas medalhas de ouro em Mundiais, duas paralímpicas e quatro de Jogos Pan-Americanos. A galeria de conquistas ela quer aumentar em Lima e, ainda este ano, no Mundial para o qual ela ainda busca índice para poder se classificar. Mas não há como negar que a toda a trajetória de vida de Verônica Hipólito deixa muitas lições por todas as vitórias que ela teve desde o momento em que os problemas de saúde começaram a aparecer.
“Não é só o correr. É o que ela passa da vontade de viver que ela tem, que ela consegue transmitir isso”, diz o pai José Hipólito. “Eu acho que a mensagem principal disso tudo é aquilo que ela sempre fala, para a gente não se apegar ao problema e sim à solução”, completa a mãe Josenilda.
Os pais tiveram papel fundamental na paixão da filha pelo esporte. “Desde criança pequena, nós colocamos ela no esporte”, lembra Josenilda. “Eu fiz todos os esportes. Se eu não fiz algum esporte é porque inventaram agora”, se diverte Verônica, que, de fato, fez de tudo um pouco. Até goleira de futsal ela foi. Mas a preferência da menina era, quando mais nova, pelo judô, esporte que foi obrigada a abandonar.
“Primeiro ela teve que fazer uma cirurgia na hipófise por causa de um tumor e aí depois, quando ela tinha uns 14 anos, ela teve um AVC”, conta Josenilda. Por conta do problema, a orientação médica era que ela parasse com o judô por conta do risco de sofrer impactos na cabeça, mas o atletismo surgiu na vida de Verônica para surprir a lacuna.
“Amiga dela tinha chamado para fazer um teste no Sesi, ela foi, passou e lá descobriu que ela era paralímpica e aí fomos atrás de fazer a classificação dela como paralímpica”, lembra a mãe. A descoberta foi uma espécie de libertação para Verônica. “Na época eu tava com muito medo, eu era muito tímida, mas quando eu saí de lá eu vi o mundo paralímpico, ou parte dele, e eu falei assim: ‘gente, tem muita gente igual a mim’ e aí resolvi que eu ia correr e dar o meu melhor”, relembra a atleta a respeito do dia da primeira classificação.
Fonte: Olimpíada Todo Dia