Como surge uma Religião

Os livros de ensinamentos de todas as boas religiões do mundo são frutos da inspiração dos seus funda-dores. Eles se empenharam na prática de várias formas de ascese visando ao auto-aprimoramento, até atingir, finalmente, o estado espiritual de comunhão com a vibração da Vida imanente no Universo; então, veio-lhes a inspiração e, num lampejo de intuição, apreenderam a Verdade. As explicações sobre a Verdade revelada constituem os ensinamentos fundamentais de uma doutrina religiosa.
Talvez haja quem pense “Hoje em dia, religião é um negócio lucrativo. Vou criar uma nova religião para ganhar dinheiro” e, visando ao lucro, funda uma entidade religiosa misturando as doutrinas de várias religiões existentes. Pode ser que, no início, ele consiga iludir as pessoas e ter adeptos, mas isso não irá durar por muito tempo.
É possível que a teoria dele constitua um preceito moral ou uma filosofia, mas jamais será uma doutrina religiosa. A origem de uma doutrina religiosa só pode ser a inspiração divina. E, como foi dito, palavras inspiradas expressas por escrito constituem os livros de ensinamentos. Contudo, devemos atentar para o seguinte fato: O ensinamento da Verdade se refere a fatos que transcendem o mundo visível, e nos idiomas usados neste mundo fenomênico faltam palavras que possam expressar de modo exato a inspiração, que é invisível, transcendental. Assim, é preciso tentar explicar as coisas invisíveis usando palavras destinadas a explicar coisas visíveis, concretas. É preciso recorrer a sinais gráficos de palavras criadas para explicar os fatos deste mundo perceptíveis aos sentidos físicos, quando o objetivo é explicar os fatos que transcendem os sentidos. Por essa razão, as palavras em si não expressam de modo direto e cabal a inspiração do fundador de uma doutrina religiosa. As palavras servem apenas para representar, de modo simbólico, as vibrações da Vida do Universo captadas pelo fundador. Portanto, ainda que leiamos as palavras escritas, não conseguiremos compreender a Verdade se não sentirmos a essência dela. Não podemos compreender o verdadeiro significado de um livro de ensinamentos interpretando apenas superficialmente as palavras nele constantes. Nos livros de ensinamentos podem constar afirmações aparentemente absurdas, narrações de fatos inverossímeis e parábolas que parecem mitologia ou histórias infantis. Isto se deve ao fato de os autores desses livros terem procurado ex-pressar o mundo espiritual por meio de palavras criadas para expressar o mundo fenomênico. Jesus Cristo e Buda também usavam frequentemente parábolas para ensinar a Verdade. No zen-budismo, existe a expressão [uryu-monji], que significa que “não é possível explicar a Verdade por meio de conceituações”.
O zen-budismo dispõe de uma grande quantidade de livros sobre a doutrina – provavelmente, a sua biblio-teca é maior que a de todas as outras seitas budistas. Mesmo assim, admite que não é possível explicar a Verdade por meio de conceituações. Mas é possível, por meio de representação gráfica de palavras, fazer com que as pessoas apreendam de modo intuitivo a Verdade que não pode ser explicada conceitualmente. Por isso, qualquer que seja a religião, é essencial a leitura dos livros de ensinamento. Porém, como as partes mais profundas do ensinamento são apresentadas por meio de símbolos, alguns compreendem, e outros não. Por isso, podemos dizer que religião é ao mesmo tempo fácil e difícil; para alguns, é difícil, mas, para outros, capazes de captar intuitivarnente a Verdade, é fácil.




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