Desvendando os mistérios de Casablanca

Já pensou em conhecer um destino turístico que, muitas vezes, vem dentro de um pacote “2 em 1”? Ficou confuso? Então deixa eu te explicar, a coluna de hoje te convida para dar um passeio por Casablanca, cidade situada no Marrocos. O nome do país provavelmente não soa estranho aos seus ouvidos já que há aproximadamente 18 anos a novela “O Clone” ia ao ar e, pela primeira vez, a teledramaturgia brasileira trazia à tona um pouco da cultura islâmica, retratando e até mesmo desmistificado o tema para muitas pessoas.

O Marrocos é um país que fica no continente africano e que é regido por um rei e seus ministros (indicados pelo regente). O atual monarca, Mohammed VI, tem ambições arrojadas: o planejamento é criar 200 mil camas até 2020 e, assim, dobrar a capacidade no setor de turismo, com o objetivo de atingir receitas de 140 bilhões de dirhams (moeda local), incluindo o país entre os 20 principais destinos turísticos do mundo. Casablanca deverá ser uma das cidades mais privilegiadas com esse impulso já que é classificada como o principal porto marítimo e o centro econômico e comercial do Marrocos.

Mas vamos largar mão de falar de economia e geografia e voltar ao pacote “2 em 1”. Por ser uma região costeira, há diversos voos (por exemplo, da Royal Air Maroc) e cruzeiros que fazem longas paradas (algumas superiores a 24 horas) em Casablanca. Eu mesma tive a oportunidade de visitar a cidade durante viagens com o trajeto Rio de Janeiro/Lisboa. O melhor dessa história é que as despesas de hospedagem, traslado e alimentação ficaram por conta da companhia aérea (quem não ama um “0800”?). Ou seja, o seu destino final pode ser uma cidade da Europa – como Portugal ou Espanha – mas Casablanca estará no meio do caminho, de portas abertas para te mostrar sua colorida, intensa e viva cultura. E o melhor: não há exigência de visto de entrada, apenas um passaporte com validade mínima de seis meses, podendo o visitante ficar até 90 dias no país.

O primeiro item a se pensar ao visitar um país de cultura muçulmana é estar preparado para imergir em um contexto bem diferente do nosso. O Islamismo é a religião mais praticada do Marrocos, abrangendo um total de 98,7% da população do país. Alguns de seus alicerces são a generosidade e a solidariedade e o seu povo é enraizado às suas tradições, bem como aos preceitos descritos por Alá (seu único Deus Criador), no Alcorão (o livro sagrado). Seus seguidores devem obediência à lei e à vontade de Alá e creem na “predestinação” (lembra da Jade dizendo: “estava escrito”?). O homem que segue o Alcorão pode ter até quatro esposas legítimas e tem de seguir deveres como orar cinco vezes ao dia, jejuar durante o mês do Ramadã (que será entre os meses de maio e junho este ano) e dar esmola aos mais necessitados. As diferenças culturais se estendem a questões relacionadas ao vestuário, à alimentação, à educação e ao conservadorismo religioso (a homossexualidade ainda é considerada crime no país).

Por isso, antes de fazer as malas, uma dica interessante que pode ser útil para quem pretende visitar o Marrocos ou qualquer país de maioria muçulmana (como Líbano, Paquistão e Arábia Saudita) está relacionada à questão do vestuário: muitas mulheres que seguem o Alcorão cobrem a cabeça em público. Há países em que esta orientação se mostra mais flexível, como Tunísia, Turquia e o próprio Marrocos, mas o tópico não é consenso. Por isso, é uma postura gentil utilizar roupas de comprimento mais longo, camisas que cubram os ombros e até mesmo um lenço na cabeça, no caso das meninas. Você pode vestir uma calça legging (eu mesma usei algumas vezes) mas, se possível, o ideal é a blusa cobrir os quadris.

A preocupação com este tópico foi um dos principais motivos que me levaram a questionar a possibilidade de viajar ou não para o Marrocos, mas após algumas pesquisas e, especialmente, depois de conhecer o país e perceber o quanto sua população é gentil e respeitosa com os turistas, esse “receio” se mostrou infundado. Contudo, que fique claro que o uso de peças mais longas e/ou fechadas não é, de modo algum, uma obrigação, mas respeitar os costumes locais talvez seja uma boa opção para ser bem recebido em qualquer espaço público (especialmente em visitas à Mesquita, local em que roupas decotadas, sem mangas ou curtas são proibidas para ambos os sexos). E vai que no meio da experiência você não se diverte utilizando os belos adereços que eles vendem? Há um certo mistério e encanto no uso dos véus.

As cores vibrantes dos calçados marroquinos. Foto: Caroline Queiroz

E já que estamos falando sobre acessórios, fazer compras em Casablanca é uma quase uma obrigação para o visitante. A cidade hospeda o maior shopping do país, o Morocco Mall, com seus 70 mil m2 e o seu aquário gigante, com cerca de 3.750 espécies de corais e 37 raças de peixes. Mas nada se compara a uma visita à Medina, tradicional mercado local no qual é possível comprar diversos produtos, inclusive o famoso óleo de argan, que é excelente para o organismo, pele e cabelos (ele deve ser 100% natural, sem cheiro e de cor âmbar).

Na Medina também é possível vivenciar as melhores experiências gastronômicas da cidade. Experimente o chá com hortelã e o suco de laranja marroquina (são bebidas típicas e muito saborosas). Vale um adendo: o Alcorão não permite o consumo de bebidas alcoólicas, mas é possível encontrar cervejas e vinhos, por exemplo, em hotéis e mercados. Contudo, esteja preparado para desembolsar uma quantia mais alta por tais produtos. E se você, como eu, gosta de se manter hidratado, dê preferência às garrafas de água. Eu senti um sabor diferente na água servida em uma jarra no hotel, por isso optei por manter a minha garrafinha sempre em mãos.

Pães e doces vendidos na Medina. Foto: Caroline Queiroz

Em relação à comida, o Marrocos é famoso especialmente pelo tajine e por seu cuscuz, pratos que levam carne, frango, ovelha, legumes e frutas secas. Os condimentos são maravilhosos (e muitas vezes picantes) e podem ser comprados em pequenas quantidades. Há também diversos pães e doces à disposição. Por isso, dê uma olhada nas condições de higiene em que os produtos estão expostos e se aventure. Um novo adendo: fique atento aos seus registros fotográficos na Medina. Há pessoas que fazem apresentações artísticas de rua e que cobram uma taxa quando um turista clica o momento. Por fim, se você quiser uma experiência um pouco mais aprimorada visite, por exemplo, o Restaurante Rick’s Café. Inspirando no famoso filme “Casablanca”, o espaço traz a típica alimentação e decoração marroquinas. E não estranhe se você vir clientes comendo com as mãos, faz parte da tradição local.

E se você ficou interessado em fazer compras, entenda que é da cultura do marroquino a negociação. Normalmente, os preços não estão expostos, por isso, primeiro dê uma olhada em tudo o que achou interessante e ao chegar à loja escolhida saiba que pechinchar é preciso. Eles estão acostumados e não há mal algum nisso, pelo contrário, é divertido e você levará o mesmo produto/serviço por um preço mais acessível. A barganha se estende, inclusive, para os passeios e os traslados de táxi.

Tipos de narguilé vendidos na Medina. Foto: Caroline Queiroz

E falando de passeios, vamos a mais alguns pontos turísticos de Casablanca. Talvez o principal seja a Mesquita Hassan II. Com os seus 200 metros de altura, este espaço é considerado o edifício religioso mais alto do mundo e um clássico exemplo da autêntica arquitetura árabe-muçulmana. Inaugurado em agosto de 1993, o local permite uma experiência única de adentrar nas práticas dos muçulmanos. Há horários específicos de entrada, todos os dias, nos períodos da manhã e da tarde, com preços que variam de 60 a 2200 dirhams. Vale acrescentar que esta é a única mesquita aberta a não-muçulmanos.

E já que a parte arquitetônica é um dos principais atrativos, é importante ressaltar que além da Mesquita Hassan II, é possível visitar a Cathedral de Sacre Coeur, a Sinagoga Beth El, o Mahkama du Pacha e o bairro Habous (e as suas maravilhosas residências, como o Palácio Real). Já a região de Ain Diab integra a parte costeira de Casablanca e está repleta de restaurantes típicos onde é possível conversar com residentes e desfrutar de uma bela vista para o mar.

Região Ain Diab traz belas praias. Foto: Arquivo Pessoal

Se você tiver mais dias, aproveite os longos tours, que incluem visitas a Rabat, Fez e Marraquexe (com a possibilidade de você passar a noite em um maravilhoso acampamento no deserto). Os passeios mais longos podem ser agendados previamente ou você pode contar com motoristas que ficam na entrada dos hotéis e que conduzem os turistas aos principais trajetos da cidade por um preço fixo. Em geral, os profissionais que trabalham neste setor falam, além do árabe, inglês, espanhol e francês. Por isso, não há grandes problemas de comunicação. Seja para uma pequena parada ou para passar muitos dias, Casablanca merece ser conhecida.




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