Em 2019, o Cine-Theatro Central, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), celebra os 90 anos de sua inauguração em 30 de março de 1929, quando pela primeira vez abriu suas portas ao público para a exibição do filme mudo “Esposa alheia” com acompanhamento de uma grande orquestra. Desde o final de dezembro de 2018, a partir do encerramento da agenda de eventos daquele ano, o teatro está fechado temporariamente para receber obras de adaptação e ajustes de segurança, que estarão concluídas até o final de março próximo para as comemorações de aniversário do espaço.
Além da produção e da instalação de estruturas de ferro para proteção do guarda-corpo no segundo andar e de corrimãos nas escadas laterais que dão acesso aos andares superiores, também está em processo a pintura da estrutura de madeira do palco com tinta anti-chamas. Com essas medidas, o teatro poderá reabrir seu balcão nobre e a galeria (segundo e terceiro andar, respectivamente), que haviam sido interditados pelo Corpo de Bombeiros em razão de mudanças nas leis de segurança voltadas a locais de eventos.
“É com muita alegria que a gente vai concluir a maior parte dessas obras a tempo da realização das nossas comemorações dos 90 anos do Cine-Theatro Central com os espetáculos que vamos apresentar, como o show do Milton Nascimento e outros espetáculos que ainda estamos agendando”, afirma o diretor Luiz Cláudio Ribeiro. Um edital da Pró-reitoria de Extensão (Proex) receberá, até o próximo dia 25, propostas de patrocínio do projeto Celebração 90 anos – Cine-Theatro Central – Noite de Gala, para captação de recursos financeiros de empresas públicas ou privadas para o evento comemorativo.
Durante o período da reforma, o teatro está recebendo público para visita guiada espontânea (sem agendamentos) somente aos sábados. A retomada da agenda do Central em 2019 será em abril, quando começam a ser apresentados os espetáculos aprovados nos editais de ocupação artístico-cultural, do projeto Luz da Terra e também do Palco Central, ainda em processos de seleção.
Vistorias
No final de setembro de 2016, o Central recebeu o Corpo de Bombeiros para uma vistoria que identificou a necessidade de reparos e adequações. Com a inspeção foi detectada a necessidade de instalação de corrimãos nas laterais das escadas de acesso ao segundo e ao terceiro andar. Além disso, constatou-se a baixa altura dos guarda-corpos junto às plateias do segundo e terceiro andares, que levou à interdição temporária destes pavimentos. Logo após, algumas mudanças foram feitas com urgência para que o teatro pudesse ainda usar as plateias A e B e, assim, manter sua agenda.
A partir da constatação dessas demandas, o teatro, que pertence ao patrimônio da UFJF e é tombado a nível nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), deveria passar por alguns trâmites burocráticos para a realização de sua reforma para adequação. “Primeiro precisávamos apresentar um projeto, e, para isso, a Universidade precisava contratar uma empresa por meio de edital público. Deve-se fazer uma licitação, e isso já demanda um período. A partir disso, a empresa [licitada] fez um pré-projeto, e este foi para o Corpo de Bombeiros, e depois para o Iphan, no qual, em discussão, negociaram. Depois os próprios engenheiros da Universidade e a empresa Eficácia – vencedora da licitação de criação do projeto – fizeram os ajustes necessários para começar a execução da obra, que já conta com aval do Iphan”, ressalta a secretária executiva da UFJF lotada no Cine-Theatro Central, Ana Paula de Sant’Anna Cesar.
Toda a tramitação e a discussão sobre as reformas, apesar de serem consideradas demoradas e burocráticas, foram feitas com atenção e precaução devido aos desafios de se adequar uma construção antiga às normas de segurança contemporâneas, como explica Ana Paula: “O teatro precisava atender a uma instrução técnica atual, que na época de sua construção não existia. E a instrução normativa é do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais que, no final de 2016, liberou uma [lei] específica para prédios tombados. Foram sensíveis às complexidades de adequação de um prédio construído em 1929 e um patrimônio cultural.”
O arquiteto e urbanista da Pró-reitoria de Infraestrutura e Gestão (Proinfra), Pablo Pinheiro da Costa, ressalta os desafios de se realizar alterações em construções antigas para atendimento à legislação contemporânea: “Os prédios antigos em geral podem ter muita madeira, poucas saídas (o Central tem o suficiente). No caso do Central, os guarda-corpos haviam sido projetados numa época em que a população era bem mais baixa; à medida que ganhamos altura, eles se tornaram inseguros. Também não havia corrimãos. E alguns locais foram feitos de forma bem improvisada, então estamos alterando.”
Ao longo de 2016 e 2017, o Central também adequou seus sistemas de detecção e alarme de incêndio, hidrantes de recalque e sistemas de iluminação de emergência – o nobreak, como é conhecido, equipamento que regula voltagem e sustenta dispositivos em caso de queda de energia.
Fiscalizações pelo país
As vistorias em estabelecimentos em busca de regularizações e adequações às normas na segurança aumentaram consideravelmente em todo o território brasileiro após a tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, município do Rio Grande do Sul. Cidadãos de diversos cantos do país e do mundo acompanharam o resgate das vítimas do incêndio ocorrido em janeiro de 2013, que tirou a vida de 242 pessoas e deixou 680 feridos. Após a intensificação na fiscalização em várias casas de shows, boates, teatros e cinemas naquele período, identificaram fragilidade e falha nos cuidados com a segurança destes estabelecimentos.
Apesar da intensa movimentação no país a favor de cuidados com a fiscalização após o acidente, o país ainda presenciou uma sequência de tragédias causadas pela falta de manutenção e fiscalização. Em menos de seis meses, três grandes tragédias recentes sucederam-se no Brasil por falta de prevenção: o incêndio do Museu Nacional do Rio; o rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho, que resultou em grande perda humana e ambiental; e o incêndio no Centro de Treinamento do Clube de Regatas Flamengo.
O Central
O “Central”, como é popularmente conhecido, pertence à UFJF desde 1994, quando o político juiz-forano Itamar Franco, ao assumir a Presidência da República, enviou pelo Ministério da Educação – que na época estava aos cuidados de Murílio de Avellar Hingel, formado em Filosofia e Letras pela UFJF, ex-secretário de Educação e Cultura de Juiz de Fora e diretor-fundador da Faculdade de Educação da mesma universidade – uma verba que permitiu a compra do imóvel pela Universidade.
Naquele mesmo ano, o cine-teatro foi tombado em âmbito federal pelo Iphan. A partir deste momento teve início o trâmite para uma grande reforma e restauração do teatro que, na época, encontrava-se deteriorado e desvalorizado culturalmente. Além desta, outras reformas e diversos reparos foram feitos no decorrer dos anos, como por exemplo, em 2009, quando cuidaram do sistema elétrico, de iluminação, sonorização e cenotécnica, e posteriormente, em 2014, ano em que restauraram-se janelas, ornamentos e ladrilhos, e realizou-se tratamento e recomposição das pinturas e impermeabilização do terraço e das marquises.
Com as adequações agora providenciadas, o Cine-Theatro Central pode comemorar seus 90 anos oferecendo mais segurança e tranquilidade para artistas e público que frequentam o mais belo e tradicional palco juiz-forano.
Fonte: UFJF