Através de experiências pessoais ou vividas por amigos ou familiares, surgem as ideias para inúmeras músicas que tocam diariamente nas nossas playlists. Seja para um momento divertido, celebrar o amor ou para curtir a famosa ‘bad’, sempre temos uma música que se encaixa para aquele momento. Antes dos arranjos e da voz, a experiência precisa ser externada e a história contada para ser cantada. E esse é o papel do compositor, que teve seu dia celebrado no último dia 15 de janeiro.
Juiz de Fora é berço de música de qualidade e artistas completos. A cidade respira a primeira arte sendo palco para o nascimento de muitos intérpretes e compositores e também se tornando o local escolhido para muitos artistas que nasceram em outros municípios, mas que escolheram a Manchester Mineira para divulgar o seu trabalho ao público.
Por aqui, temos vários nomes como Alessandra Crispin, Guido Del’Duca, Roger Resende, entre muitos outros. Cada um deles com sua individualidade na arte de compor (e cantar).
Alessandra Crispin, Cantora e Compositora nascida e criada em Juiz de Fora, começou sua ligação com a música por influência de familiares. “Meu pai tinha muitos vinis, então a gente ouvia de tudo, eram vinis variados, como Roberto Carlos, Sandra de Sá, Alcione e outros nesses estilos musicais. Esse foi meu primeiro contato com a música”, disse. O desenvolvimento de seu lado instrumentista surgiu por volta dos 12 anos de idade através de uma tia, já falecida, que era violinista autodidata. “Isso me despertou a vontade de tocar violão e instrumento de percussão”, relembra. Na decisão de ser cantora, Alessandra destaca que não teve influência da família. Ela iniciou a carreira aos 14 anos se apresentando tocando violão. “Estou indo para os16 anos me apresentando na música, mas como cantora em carreira solo tem 5 anos”.
Foi na infância que ela desenvolveu a prática da composição. “Eu tive a sorte de estudar em uma escola municipal, do bairro Nova Era, a Escola Municipal Cecília Meireles, que tinha uma diretora, chamada Dona Olga, que fomentava muito a cultura dentro da escola. Ela sempre promovia vários festivais, como o festival Primavera, ou gincanas que a gente tinha que escrever jingles ou criar músicas inéditas e eu sempre participava”, comenta. Para Alessandra, a diretora da escola que escolheu na infância teve um papel crucial na sua escolha pela música. Alessandra acredita que já escreveu em torno de 30 músicas. “Geralmente não penso muito nisso”, disse. Ela destaca que não tem composição favorita, mas composições que tem importante representatividade em momentos de sua vida. “Uma música que está no meu primeiro CD, que chama ‘Meu Bicho’, que eu acho ser uma música que me traduz muito na minha saída da adolescência e acredito que outros adolescentes também se identificam com ela”, comenta.
Em 2018, Alessandra lançou, no dia de seu aniversário, a música ‘Presente’. Transformando o sentimento de revolta em canção e cantou sobre Marielle. “Feita para exterminar minha revolta depois do assassinato de Marielle, que infelizmente até os dias de hoje, não tem uma resposta dos órgãos responsáveis”, explica. Para 2019, ela comenta sobre a música ‘O Peso da Pele’ que ainda não foi lançada. Essa canção, explica, traz a realidade de toda a população negra brasileira, retratando todo o cotidiano. “Ninguém ouviu ainda. Acredito que a galera da minoria vai se identificar”. As músicas ‘Presente’ e ‘O Peso da Pele’ fazem parte do novo projeto de Alessandra que deve sair depois do carnaval.
Para ela, nos últimos anos um grande número de juiz-foranos passou a dar mais atenção para a música autoral. “Tem muito musico bom e cantores e bandas que só trabalham com músicas autorais, então você chegar no show deles e ver a lotação do público, traz esperança para o cantor independente. Eu vejo que Juiz de Fora tem dado uma visibilidade muito boa para essa galera que gosta de compor. Eu que canto em meus shows musicas de releituras, hoje fico muito mais à vontade em apresentar minhas músicas autorais por causa desse movimento”, disse.
Outro nome do cenário juiz-forano é Guido Del’Duca, cantor e compositor ou ‘cantautor’. “É aquele que canta a sua composição”, explica. Guido, nascido em Santa Rita do Sapucaí, Sul de Minas, veio para Juiz de Fora na adolescência. Com estilo influenciado pela MPB e pelo folk, ele conta que cresceu ouvindo música. “Meu pai tem uma coleção grande de CDs de rock e eu cresci ouvindo. Meu irmão começou a tocar violão quando eu era criança então eu já tinha um violão por perto e aí eu comecei a estudar”, disse. O artista estudou teclado, piano e baixo elétrico e depois começou a cantar acompanhado do violão. Aos 12 anos ele começou a primeira banda com alguns amigos e cantavam cover em inglês. Quando tinha aproximadamente 14 anos começou a compor. Aos 15 iniciou sua trajetória cantando em barzinho e está completando sua década como musica.
A carreira autoral de Guido com lançamento profissional começou em 2015. “Foi quando eu comecei a lançar minhas primeiras composições de uma forma mais profissional, mas eu comecei a compor logo depois de começar a tocar, a maioria das músicas eu compunha em inglês. Aos 15 eu fiz uma música em português que eu toco até hoje e entrou no meu primeiro disco e se chama ‘Olhe Amigo’”, disse. Desde a adolescência Guido fazia seus rascunhos, mas muito deles não foram registrados. Até hoje, ele acredita suas composições chegam à casa das 50, entre as gravadas e não gravadas.
Perguntado sobre uma música favorita, o cantautor responde “que a gente acaba gostando mais do que estamos fazendo por agora. Eu tenho isso de gostar das músicas que eu fiz recentemente”, comenta. Sem revelar os nomes das canções, ele destaca duas composições recentes, ainda não gravadas, que estão na sua lista de preferidas. “A última canção que eu gravei que é muito importante se chama ‘Dois Dias’ e entrou completando o ep que eu lancei no final do ano passado”, comenta. Ele destaca ‘Dois Dias’ como a responsável por refletir o momento atual de sua carreira.
Guido Del’Duca é estudante de Direito, mas atualmente está com faculdade trancada. Atuando como Técnico Administrativo, ele conta que ainda não é possível sobreviver apenas da música. “Já dei aula de violão e toquei em barzinho para poder pagar as contas. Hoje eu não posso dizer que vivo de música, é meio que uma renda complementar, mas meu objetivo é esse. Fazer minha música chegar às pessoas a ponto delas consumirem e eu conseguir sobreviver dela”, comenta. Comparada a sua cidade natal, Guido acredita que Juiz de Fora oferece grandes oportunidades, mas destaca que “nada se compara ao que eu ouço falar de São Paulo e até do Rio de Janeiro. Definitivamente uma coisa que eu aprendi aqui é que não dá pra ficar em Juiz de Fora caso você queira ser um músico compositor, um músico autoral porque o público é muito reduzido”, comenta. Ele acredita que teria mais espaço se as pessoas se interessassem mais pelo novo. Para 2019, Guido quer focar na divulgação do trabalho mais recente e ainda disse que há o planejamento de lançar alguns singles. “Eu estou planejando uma nova música, uma parceria com um rapper da cidade para lançarmos talvez no meio do ano”, conta.
Roger Resende, cantor e compositor, com 35 anos de carreira completos em 2018, leva o samba no seu estio musical. Sua ligação com a música começou em São João Nepomuceno, que fica 65,1km de Juiz de Fora, dentro de casa. “Aos 7 anos eu ganhei meu primeiro instrumento de presente que foi um cavaquinho e fui ter aulas com meu avô”, disse. Além do primeiro incentivo das aulas com o avô, Roger conta que cresceu ouvindo muita música. “Sempre vivi em um ambiente bem musical”. Sendo de família de músicos, já tendo aprendido o cavaquinho por cerca quatro ou cinco anos, ele conta que aos 13 ele começou a aprender violão.
Na adolescência, nos encontros na praça da cidade para tocar violão, Roger desenvolveu o seu lado compositor. A primeira composição surgiu junto a alguns amigos que, juntos, eram um grupo musical, inspirados em grupos da década de 80 no estilo MPB e Pop. “Eu também ouvia muito a galera do Fundo de Quintal. Além disso, eu fui membro da ala de compositores da escola de samba da cidade, a Esplendor do Morro, onde eu ajudava um amigo meu a compor os sambas dele através da harmonização do violão. Posso dizer que minha história começa a acontecer por volta dos 14 anos”, disse. Ele destaca que começou a ter uma grande influência do samba através do contato com a escola de samba Esplendor do Morro e que usa, até os dias de hoje, o que aprendeu durante o tempo na escola. “Eu pulava muito carnaval na época e hoje, nesse período do ano, eu faço show em baile com repertório totalmente carnavalesco”, comenta.
Roger Resende chegou a morar por quase década no Rio de Janeiro, entre os anos de 1992 e 2000. Logo em seguida ele volta para Juiz de Fora definitivamente. Desde 2003, ele vem desenvolvendo projetos na cidade. Em maior de 2018, ele recebeu o título de Cidadão Honorário de Juiz de Fora. “Acho que foi muito em função do que eu procuro fazer pelo samba da cidade”, comenta.
Para o sambista, no município, apenas o público abraça a música e os compositores locais. Com 200 composições, Resende diz gostar muito de todas as músicas e não tem uma preferida. “Eu vejo tanto as pessoas elogiando músicas que eu nem esperava e eu fico tão feliz, mas eu não tenho uma música que eu tenha uma ‘quedinha’ a mais”, comenta. Ele destaca 4 músicas que o público responde com um feedback positivo, sendo elas: ‘Agradecimento’, ‘Queria Morar Num Boteco’, ‘Algaravia’, uma música em parceria com outros compositores, e a música ‘Haverá Axé’.
Para 2019, Roger Resende pretende continuar trabalhando nas músicas autorais e em outros projetos. “Trabalhar a democratização da arte e da cultura para que nas ruas as pessoas possam ter acesso e elas terem liberdade de falar ‘eu gosto’ e ‘eu não gosto’”, disse.
Todos os artistas citados nesta matéria estão com seus trabalhos disponíveis nas plataformas digitais. Além disso, para saber mais sobre cada um deles é possível encontrá-los através das redes sociais com seus respectivos nomes.
ALESSANDRA CRISPIN
GUIDO DEL’DUCA
ROGER RESENDE