Câmara Municipal discute políticas públicas sobre a população em situação de rua em Juiz de Fora

Uma audiência pública foi realizada nessa terça-feira, 11, na Câmara Municipal de Juiz de Fora com o objetivo de promover uma discussão sobre políticas públicas sobre a situação dos moradores em situação de rua no Município. Segundo um estudo realizado pela Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS) em 2016, Juiz de Fora possui cerca de 880 pessoas em situação de rua.

A audiência foi proposta pelo vereador Marlon Siqueira (MDB). Segundo ele, o objetivo é reunir o Poder Público, a população e o terceiro setor para expor como são direcionadas, planejadas e executadas as políticas públicas para atendimento a esse público. “Nós vereadores temos que estar nas ruas e estando nas ruas vemos um aumento dessa população de rua, muito em virtude da desidratação econômica, a ‘epidemia’ das drogas, isso é inerente em todo país. Ficamos muito preocupados e eu trouxe essa discussão para dentro da Câmara Municipal para que nós possamos saber o que o Poder Público tem feito para minimizar isso, também como tem agido e dar oportunidade do terceiro setor de estar engajado e podendo ajudar”, disse. De acordo com Marlon Siqueira, a região central é onde se concentra o maior número de pessoas vivendo nas ruas. Para o vereador, uma das ações para reverter esse quadro e diminuir o número de pessoas em situação de rua é a empregabilidade.“Precisamos criar maneiras de empregar essas pessoas. Através da empregabilidade conseguimos levar dignidade, saúde e educação para nossos lares.Temos que focar, ter uma visão para conseguirmos um trabalho, uma atividade para essa população. Esse é apenas um viés para minimizar tão grave problema”, comenta.

Questões voltadas para a maneira como é feito o acompanhamento social, psicológico e de saúde dessas pessoas, direitos constitucionais como a segurança alimentar e projetos de inserção dos moradores de rua no mercado de trabalho, estiveram entre os tópicos discutidos na audiência. Além disso, a população pode indicar modos de auxílio para estas pessoas. “É um problema grave que precisa estar sendo discutido com frequência. Não podemos dar as costas a isso”, disse o vereador.

Questões voltadas para a maneira como é feito o acompanhamento social, psicológico e de saúde dessas pessoas, direitos constitucionais como a segurança alimentar e projetos de inserção dos moradores de rua no mercado de trabalho, estiveram entre os tópicos discutidos na audiência. Foto: Rafaela Frutuoso

A Secretaria de Desenvolvimento Social desenvolve serviços e programas para atender a população de rua. Carla Salomão, subsecretária de Gestão do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e Inclusão Socioprodutiva, explica que a SDS tem parceria com três entidades, sendo elas: a Associação Municipal de Apoio Comunitário – Amac, Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais – Adra e a Fundação Maria Mãe.“Nessas parcerias desenvolvemos serviços e programas para atender essa população desde a porta de entrada, que é a abordagem, até outros serviços de acolhimento institucional, casa de passagem para mulher e para homem, centro de referência que atende a população de rua dentro de suas necessidades com atendimento psicológico, assistencial e de outros técnicos de nível superior, com uma escuta qualificada para avaliar a situação de rua e as possibilidades de saída dela”, explica. Além disso, há também a inclusão produtiva com geração de emprego e renda.Carla explica que a abordagem das pessoas em situação de rua é trabalhada de forma educativa. “Os abordadores vão orientar, vão informar para que essa população possa acessar os serviços e programas disponíveis a ela”, disse.

Para participarem da audiência pública foram convidados representantes de instituições de amparo a pessoa em situação de rua como a Fundação Maria Mãe, Amac, Comsea, Cras/Centro, Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, 4º RISP, 2ºBPM, 30ª Cia PM, Cisdeste, Centro de Prevenção à Criminalidade, Associação Beneficente Cristã Restituir,Sociedade Beneficente Sopa dos Pobres, Subsecretaria de Atenção Primária à Saúde, Feira de Economia Solidária de JF, Associação Metodista de Ação Social, Instituto da Família de JF, Conselho Municipal de Assistência Social, Comitê Intersetorial de Políticas para Pessoas em Situação de Rua e Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais Sudeste Brasileira.

 

UMA NOVA VIDA

DomicilianaVerissima de Paula Moreira saiu de casa para viver nas ruas aos 17 anos. Ela relatou à nossa equipe que a motivo foi o vício nas drogas. “Eu usava muita droga e eu não queria que minha mãe me visse drogada e não queria depender do dinheiro dela para usar drogas. Minha mãe sempre foi muito trabalhadeira, nunca me ensinou coisas ruins, eu que quis entrar nesse mundo”, disse. Durante anos, às ruas de Juiz de Fora se tornaram a casa de Domiciliana.“Na rua eu só tive desgraça para a minha vida. Sofri muito, apanhei muito, fui perseguida. Eu sofri racismo. Sendo negra eu já sofro preconceito, sendo moradora usuária de drogas a gente sofre preconceito duplo”, disse.

A vida nas ruas e o vício em drogas marcaram a vida deDomiciliana com uma prisão por tráfico de drogas. Há quatro meses, já com seus 26 anos, Domiciliana é atendida pela Casa da Cidadania. Ela faz tratamento com psicólogo, faz cursos e pretende voltar a estudar. “A melhor coisa que eu fiz foi procurar um tratamento e largar as drogas. Se eu não fizesse isso antes, hoje eu não estaria aqui dando esse depoimento. Eu estou tendo a oportunidade de me ressocializar, estou aprendendo a viver de novo”. Para Domiciliana, faltam oportunidades para as pessoas em situação de rua. “É preciso dar oportunidade para essas pessoas mostrarem o que sabem fazer, propor cursos, ajudar a voltarem a estudar, dar oportunidades para eles. Eu sou assim, o que eu puder ajudar eu vou ajudar qualquer um”, comenta.

A vida nas ruas deixou marcas negativas em Domiciliana, ensinou a ela inúmeras coisas e também lhe apresentou uma pessoa com quem, atualmente, ela mantém um relacionamento. “Eu conheci meu marido na rua. Nós éramos muito amigos e resolvemos tentar.Antes de eu ser presa a gente tinha terminado e depois que eu saí eu resolvi que queria minha família de volta, minha casa de volta e pedi ajuda. Agora eu vou viver um pouco a vida, ter um filhinho, voltar a estudar e trabalhar”, conclui.




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