Todas as profissões têm seus jargões específicos, assim, por exemplo: Atendente de telemarketing não pede, mas “vai poder estar pedindo”. Agentes de segurança não dizem sim, mas “positivo e operante”.nMédico não tem dor de cabeça, mas cefaleia.
Imagino que os arquitetos, para não ficarem para trás, também produziram as suas expressões próprias, jargões como: criando contraste, cores dialogando, espaço gourmet, pé direito duplo, hall de distribuição, quarto aconchegante e funcional…
Mas o que significa tudo isso?
Para não ficarmos com cefaleia tentando decifrar esse impenetrável dialeto dos arquitetos, “vou estar traduzindo” alguns desses jargões para entendermos melhor cada um deles. “Positivo, operante”?
Entretanto, antes de entrarmos efetivamente nesse pequeno dicionário de “arquiteturês”, vale lembrar que mais importante do que o entendimento semântico das palavras, é permitir que haja um bom diálogo entre cliente x arquiteto. Diálogo entre os seus sonhos e o poder de compreensão deles pelo profissional, que deve saber traduzi-los em elementos concretos através de um bom projeto.
CRIANDO UM CONTRASTASTE: termo usado quando quer se evitar que um ambiente fique com as cores e formas muito “combinadinhas” ou monótonas. É quando se ajustam, harmonicamente, elementos verticais com horizontais, claros com escuros, leves com pesados… (ou quando não se conseguiu combinar bem as coisas e aí a saída é falar que a intenção foi “criar um contraste”);
CORES DIALOGANDO: não precisa se preocupar achando que as cores realmente ficam batendo papo quando ninguém está olhando. Até porque fico imaginando que conversa uma cor poderia ter com a outra…
– E aí, tudo azul? – perguntaria o marrom.
– Ah… com essa crise por aí tá tudo “marrom menos” – responderia o melancólico azul. A expressão “cores dialogando” não tem nada a ver com esse suposto papo, mas é utilizada quando os tons de um ambiente são parecidos, diferenciando-se apenas em pequenas nuances.
ESPAÇO GOURMET: muito conhecida pelos mais brutos como “cantinho do guerreiro”, o espaço gourmet pode ser visto também como uma denominação glamourosa para o espaço da churrasqueira. Independente do nome dado, o espaço gourmet tem sido cada vez mais utilizado nos empreendimentos imobiliários como uma área de convivência social e informal da casa. Um espaço onde se encontra churrasqueira, pia, mesa… que permite ao usuário ter uma estrutura de “fim de semana” dentro de sua casa, cotidianamente. É uma “ilha de descompressão” para o estresse do dia a dia.
PÉ DIREITO: expressão que designa a altura que existe entre o piso e o teto. Ambientes com pé direito muito baixo geram sensação de claustro e tendem a acumular mais calor. Pés direitos mais altos deixam ambientes mais arejados e amplos, mas podem criar sensação de falta de aconchego. A altura ideal leva em consideração fatores como uso do espaço, área do ambiente, economia na construção.
PÉ DIREITO DUPLO: nada a ver com o Curupira ou com um de seus parentes distantes. Pé direito duplo designa apenas um teto que tem o dobro da altura normal. Geralmente possibilitam a criação de mezaninos e belos espaços integrados.
HALL DE DISTRIBUIÇÃO: se originalmente “hall” era uma palavra utilizada para designar um “saguão ou sala de entrada de grandes dimensões”, atualmente, o “hall de distribuição” é simplesmente um nome glamouroso para o corredor que dá acesso aos quartos. A primeira vez que ouvi essa expressão foi de um corretor que pouco antes de chegarmos nesse ambiente, criou um clima, anunciando:
– Agora vamos entrar no hall de dis-tri-bu-i-çãaao! (com eco no “ão”)
Falou com tanta imponência que até dei uma ajeitada no cabelo antes de entrar no supostamente tão suntuoso espaço.
Qual foi minha frustração ao constatar que se tratava, na verdade, de um corredor de um metro quadrado que dava para dois quartos e um banheiro.
E por falar nisso, esse “hall de distribuição” não ligava a lugares quaisquer, mas, sim, a quartos “aconchegantes e funcionais”.
ACONCHEGANTE E FUNCIONAL: essas duas palavras são um perigo… juntas podem querer dizer que o espaço é pequeno… pra caramba. Mas podem também querer dizer que o ambiente, apesar de pequeno, foi pensado para atender a todas às necessidades funcionais, aproveitando bem o espaço com mobiliários, por exemplo.
TELHADO VERDE: não tem nenhuma relação com pintar o telhado com tinta verde. Telhados verdes são aquelas coberturas feitas com algum tipo de vegetação, hortas ou gramados. Permitem, entre outros benefícios, equilibrar a temperatura dentro das casas, diminuir as ilhas de calor nos bairros onde estão implantadas, reduzir a quantidade de água que vai normalmente direto para os sistemas de captação pluvial.
PARA SUGESTÕES OU INFORMAÇÕES:
Fabiano Teixeira | Arquiteto | (32) 99103-1405