A professora de Finanças da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fernanda Perobelli, estimou que os serviços alterados em função da greve dos caminhoneiros sejam normalizados em, no máximo, dois dias, após o fim do movimento. Porém, a regularidade só vai ocorrer se os grevistas cessarem o ato.

“A primeira coisa é desmobilizar esses pontos de bloqueio e as pessoas que ainda não aceitaram o acordo proposto pelo governo. Este é o ponto principal. Quando houver a solução, a normalização não vai demorar. Tudo já está encaminhado. Então, em um ou dois dias, após o fim da greve, as coisas começarão a chegar às cidades de destino. Porém, o problema é desmobilizar esses pontos. Há uma desarticulação total, tanto na parte do governo, que enfraquecido, não quer lançar mão de uma medida mais dura, que possa incitar ódio na população e também, os caminhoneiros, que, de forma desorganizada, perderam o controle do movimento e deixaram que outras pessoas assumissem a liderança”, explicou.

Greve impactou diversos setores, ocasionando a falta de itens primordiais. FOTO: Rafaela Frutuoso

De acordo com ela, o prejuízo para o estado ainda é uma incógnita. “Ainda não se sabe o prejuízo. Não paramos para fazer a conta, pois não sabemos quantos dias vai durar. Estamos indo para o décimo dia de greve. Nos últimos quatro, a economia parou. Não foram apenas serviços essenciais, mas, presenciamos relatos de comerciantes, que afirmaram que as vendas diárias caíram 20% do que o movimento em dias normais. A certeza é que os prejuízos vão ser muito relevantes para uma economia que ainda estava começando a se recuperar. Maio vai ser um mês perdido”, ressaltou ela.

Agricultura, indústrias, comércio, importação e exportação e tantos outros serviços essenciais foram impactados. Para Fernanda, nada se compara com o desconforto familiar. “As famílias tiveram que reprogramar sua logística para se locomover. Elas estão vivendo com os alimentos que elas tinham na dispensa, e estão adotando ações para reduzir o desperdício deles. É claro que algumas vão dizer que sofreram mais, pois, de forma ‘atabalhoada’, correram para comprar coisas e pagaram mais caro pelo item. Acredito que se a greve continuar por mais uma semana, os reflexos podem ser maiores”, afirmou.

Questionada sobre uma possível situação de caos social, por conta da falta dos itens vitais, Fernanda pregou cautela ao dizer que, o próprio comportamento das pessoas impede a instalação desse cenário. “Tenho visto na internet manifestações populares pedindo racionalidade. As pessoas pedindo calma, pois sabem que as eleições estão chegando. Inclusive, considerando uma situação de desordem como risco para elas mesmas, pois, no final, quem paga a conta somos nós. Isso é legal, visto que o cidadão que está pensando em baderna, lembra o caos que vai gerar na vida dele. As pessoas estão preocupadas, o que impede que se propague um caos social”, disse.

 

GOVERNO TEMER SAI AINDA MAIS ENFRAQUECIDO’

A afirmação acima é do cientista político e professor da UFJF, Paulo Roberto Figueira Leal. De acordo com ele, os partidos que nortearam o governo do atual presidente Michel Temer perdem forças às vésperas das eleições.

“O governo Temer, que já era considerado profundamente impopular, sai desse episódio ainda menor. O fato do presidente não ser candidato à reeleição, não quer dizer que traga impactos para aqueles que o ajudou a assumir o poder. Esses partidos, que estiveram no centro da produção do seu governo, o PSDB e MDB, pagam um preço eleitoral muito maior”, explicou.

Para o especialista, o pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), que havia se manifestado a favor da categoria, se beneficia com o resultado da greve. “O Bolsonaro capitaliza com esse episódio. Não apenas porque há uma parcela do movimento dos caminhoneiros com posições em prol dele, como também, porque tudo que acontece no país, que produz uma sensação de desordem severa, beneficia alguém que apresente ideias contrárias, e o Bolsonaro sinaliza a narrativa de que vai ser capaz de estabelecer ordem”, ressaltou.

Quanto ao anúncio do governo, que afirmou que iria atender aos pedidos dos caminhoneiros, Leal ponderou. “O acordo foi emergencial, mas não se parece estável. Parte do problema, que é a política de preços da Petrobras, o governo não parece resolver. Não faz menor sentido que se tenha aumentos descontrolados, de um dia por outro, por conta da oscilação do preço do petróleo. Não mexer nisso, implica que o mesmo problema pode acontecer daqui a 60 dias”, finalizou.

 




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